Todos os dias, Tandara Jesus de Carvalho, de 24 anos, acorda antes das
9h para trabalhar no Centro de São Carlos (SP). Assim como todos os
trabalhadores, a assistente em uma farmácia, procura cumprir seus
horários e compromissos para ganhar o salário no final do mês. O que a
diferencia dos outros atendentes? Nada, além do diagnóstico de síndrome
de Down.
Nesta quinta-feira (21) é comemorado o Dia Internacional da Síndrome de
Down. A data foi marcada para que as pessoas possam debater sobre o
tema e, principalmente, pensar sobre inclusão dos seus portadores nas
atividades do cotidiano.
Carteira assinada
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Tandara ajuda em várias tarefas na farmácia em São Carlos — Foto: Gabrielle Chagas/G1
A carteira de trabalho foi assinada em junho de 2017. Tandy, como é
chamada pelos colegas de trabalho, costuma usar o salário para ajudar em
casa, comprar maquiagens e fazer passeios em família.
Ela é a única com carteira assinada em casa. A mãe Maria Leila Jesus de
Carvalho está em busca de um emprego e o pai faz bicos para cobrir as
despesas. Tandy garante que trabalhar era uma coisa que sempre quis,
além de estudar.
“Aqui eu ajudo no caixa, coloco as coisas na sacola. Se chegar perfumaria eu guardo, separo os remédios, atendo telefone. Às vezes eu peço uma ajuda. Gosto mais de ficar no balcão”, contou.
Trabalhar era um sonho
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No início a mãe de Tandara não queria que ela trabalhasse, hoje ela vê
como algo positivo que contribuiu para o seu desenvolvimento. — Foto:
Arquivo pessoal
No início, a mãe, Maria Leila, não queria que jovem fosse trabalhar.
Agora, depois de mais de um ano que Tandy está trabalhando, ela
reconheceu a sua felicidade e percebeu a mudança que o emprego causou na
vida da filha, principalmente na conversa, no jeito de se comportar e
nas atitudes.
“Eu não queria, mas como era o desejo dela, e foi assim com todos os
irmãos, eu apoiei. Eu levei ela para participar do programa orando para
ela não querer ficar, mas na hora ela disse: 'trabalhar é o meu sonho'.
Aí eu cedi e tive que aceitar. Ela ama o emprego e desenvolveu muito lá,
é uma moça”, disse.
Desenvolvimento notável
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Tandara é querida pelos colegas de trabalho em farmácia de São Carlos — Foto: Gabrielle Chagas/G1
Na farmácia, ela é querida pelos colegas e clientes. De acordo com a
farmacêutica Tiffani Azarias, que acompanhou toda a trajetória de Tandy,
o seu desenvolvimento é notável.
"Quando começou, ela tinha dificuldade em se comunicar com os clientes e
fazer tarefas sozinha, mas hoje ela atende o telefone e repassa
recados", disse.
Segundo a colega, aconteceram dois casos de preconceito por parte de
clientes da farmácia, que foram contornados pelos funcionários que
estavam por perto. Contudo, a maioria das pessoas que passa pelo
estabelecimento tem carinho pela jovem.
Estímulo positivo
Para Marena Ferrari Tavoni, educadora especial da Associação de
Capacitação, Orientação e Desenvolvimento do Excepcional (Acorde) de São
Carlos, o trabalho é um estímulo positivo para o desenvolvimento da
pessoa com síndrome de Down.
Além de desenvolver a organização, a autonomia e despertar o interesse
de quem trabalha, a presença deles em um ambiente profissional causa uma
resposta positiva na sociedade.
“Você percebe que além de fazer bem para eles, todos que estão trabalhando junto param para ajudar quando eles precisam. Isso estimula as pessoas a pensarem sobre inclusão”, disse.
Entre o trabalho e o benefício
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Tita trabalhou na Câmara Municipal de São Carlos. — Foto: Gabrielle Chagas/G1
Muitos portadores de síndrome de Down que poderiam estar no mercado de
trabalho acabam não exercendo esse direito porque ao adquirir vínculo
empregatício têm o benefício do INSS suspenso.
Foi o caso de duas da Acorde. Uma delas é Ana Caiari Ferreira
Domingues, a Tita, de 28 anos, que trabalhou na Câmara de São Carlos por
um ano. Como auxiliar do presidente da Casa separava notas fiscais,
fazia contas e organizava documentos.
Na avaliação da educadora, por causa do emprego, Tita ficou mais responsável e criou vínculos sociais.
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Carolina foi garçonete em um restaurante e hoje cuida da sua casa. — Foto: Gabrielle Chagas/G1
Carolina Fernanda Peixe, de 39 anos, foi garçonete em um restaurante
onde servia almoço. Também lavava louça e as organizava na cozinha. Com o
salário, Carol comprava CDs e investia na sua paixão pela música.
“Hoje eu fico à tarde sozinha na minha casa, porque minha irmã e meu
sobrinho trabalham. Eu faço tudo, lavo, cozinho, limpo a casa, tomo
banho, tudo sozinha”, contou.
Para a educadora da Acorde, o conflito entre o salário e o benefício é negativo.
“A família pode precisar da ajuda [financeira], mas também é muito
importante que eles exerçam alguma atividade para o desenvolvimento
pessoal e profissional”, disse.
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