No Brasil, aproximadamente 33 milhões de indivíduos vivem sem acesso à água potável, conforme revelado por dados divulgados pelo Instituto Trata Brasil. Este cenário desperta preocupação, especialmente considerando que o país é detentor de dois dos maiores aquíferos do mundo - o Guarani, situado no Centro-Sul, e o Alter do Chão, na Região Norte. A dificuldade de acesso a esse recurso natural abrange diversas localidades, ressaltou a presidente do Trata Brasil, Luana Pretto. "Apesar de sermos um país abundantemente rico em água doce, até mesmo os povos ribeirinhos do Rio Amazonas enfrentam desafios para obter água potável", comentou à Agência Brasil.
O Trata Brasil é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) que promove ações e estudos voltados para o desenvolvimento do saneamento básico no país. Em comemoração ao Dia Mundial da Água, lembrado nesta sexta-feira (22), a organização divulgou a 16ª edição do Ranking do Saneamento, um levantamento que abrange os 100 municípios mais populosos do Brasil.
O relatório foi elaborado com base em indicadores do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), com o ano de referência sendo 2022. "Em média, 33 milhões de pessoas no nosso país ainda não têm acesso à água potável. Ou seja, apenas 84,9% da população é atualmente abastecida com água potável", ressaltou Luana Pretto. Segundo o levantamento, apenas 22 dos municípios analisados têm acesso à água potável para toda a sua população. Os resultados mais preocupantes foram observados em Porto Velho, onde apenas 41,74% da população tem acesso a água potável, seguido por Ananindeua (PA), com 42,74%; Santarém (PA), com 48,8%; Rio Branco, com 53,5%; e Macapá, com 54,38%.
"A situação do saneamento, especialmente na Região Norte, é bastante precária, com apenas 64,2% da população tendo acesso à água. Isso ocorre em parte devido à falta de priorização desse tema, já que historicamente se acreditava que a abundância de recursos hídricos nessa região tornava a água um bem infinito e facilmente acessível", explicou a presidente do Trata Brasil.
Ela destacou que é comum na região as pessoas cavarem poços e consumirem água de rios, sem compreender que essa água pode estar contaminada e não atender aos padrões de segurança estabelecidos pelo Ministério da Saúde.
Luana Pretto criticou também a falta de cobrança da população em relação ao poder público para avanços no saneamento. Como resultado, os governantes frequentemente não priorizam o tema e não elaboram planos de investimento na área. "Na Região Norte, o investimento em saneamento básico é de apenas R$ 57 por habitante ao ano, enquanto a média necessária para alcançar a universalização do acesso seria de R$ 231 por habitante ao ano. Isso representa um investimento muito abaixo do necessário", acrescentou.
Em razão do Dia Mundial da Água, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) também chamou a atenção para outro problema: 2,1 milhões de crianças e adolescentes até 19 anos vivem sem acesso adequado à água potável no Brasil.
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