Adolescente autuado no Paraná é colocado frente a frente com o pai preso para conversa sobre respeito Promotor de justiça de Londrina, que teve ideia do reencontro, diz que intenção era 'dar um chacoalhão' no menor.



Um promotor de justiça de Londrina, no norte do Paraná, colocou pai e filho frente a frente para uma conversa sobre respeito. O adolescente de 15 anos - usuário de drogas e que ameaçou o diretor da escola - foi levado à cadeia para ouvir o pai, condenado a quase 80 anos de prisão por vários assaltos a mão armada.


O promotor de justiça Marcelo Briso Machado, da Promotoria de Adolescentes de Londrina, relatou, no Facebook, detalhes do reencontro entre pai e filho na Penitenciária Estadual de Londrina (PEL 1), na manhã de segunda-feira (4). A avó do menor e mãe do presidiário também esteve presente.



"Sem escolta mas algemado, o preso sentou-se frente a frente com o menino e, a um sinal meu, olhou-o profundamente nos olhos e passou a dizer, no único linguajar que sabia (o das cadeias), tudo aquilo que sabemos sobre respeitar professores, diretores e demais funcionários de escolas, bem como tudo aquilo que ele mesmo conhecia sobre o uso de drogas (confessou ter tido conta em cinco biqueiras de tráfico em Londrina)", escreveu.




Na publicação, o promotor de justiça relatou que o adolescente ouviu "impressionado" as palavras do pai e contou que ambos não se viam havia sete anos. A mãe do adolescente, ainda de acordo com Marcelo, "sumiu para o mundo há tempos".




'Lampejo'




Ao G1, nesta terça-feira (5), o promotor de justiça contou que teve a ideia da conversa depois de fazer um relatório estatístico onde trabalha. "Aqui, 8% dos adolescentes atendidos têm pai preso. Quando recebi o caso desse menino, já sensibilizado, tive o lampejo", explica.


Foi, então, que, com a ajuda de outros profissionais, como a de uma assistente social e a do diretor da penitenciária, ele providenciou o reencontro. Para Marcelo, a intenção era "dar um chacoalhão" no adolescente, que vive uma realidade delicada.



"É um menino que está numa situação difícil, sem o pai, sem a mãe e com a avó velhinha, que tem sérios problemas. Ele foi forçado a amadurecer cedo e não tem antecedentes criminais", explica.


Ainda de acordo com Marcelo, o adolescente já tinha apresentado melhora no comportamento desde a primeira audiência, há cerca de um mês, antes de reencontrar o pai.


"Mas ainda era preciso um reforço. Por isso, a conversa com o pai, em uma audiência continuada. Foi uma fala muito especial", afirma.



"Conversei com o pai antes de colocá-lo na frente do filho. Ele começou me pedindo desculpas dizendo que não ia ter um 'papo suave' com o filho e, sim, um 'papo reto'", conta.




O promotor de justiça conta que aprovou totalmente essa intenção. "Tudo o que não queria era um encontro sentimentalóide e postiço, à moda de alguns maus programas de TV", revela.




Conselhos de pai




De acordo com Marcelo, o pai falou, em resumo, que funcionários de escolas ganham uma mixaria e que merecem respeito no trabalho. "Ele disse: 'Se você não respeitar professor, diretor e todo mundo da escola, você vai acabar como eu, preso"", relata.



"O que me impressionou é que, mesmo não sendo aparentemente cristão, ele disse ao menino exatamente o mesmo conselho dado pelo próprio Rei Davi ao seu filho Salomão: 'Coragem, seja homem!'", lembra.




Por fim, o pai ainda recomendou ao filho encontrar uma namorada, conforme o promotor de justiça.


Hoje, o adolescente frequenta a Escola Profissional e Social do Menor de Londrina (EPESMEL), e teve, até agora, um bom aproveitamento. Marcelo conta que, "infelizmente", ainda não conseguiu fazê-lo desistir de vender doces na rua para ajudar a avó.


"Para continuar avançando, ele precisa de um emprego", acredita. De acordo com Marcelo, empresas londrinenses que quiserem empregar legalmente adolescentes podem entrar em contato com a EPESMEL, em horário comercial.

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