Um comunicado formal, seco.
Como se tratasse de qualquer um.
E não o maior ídolo da história do São Paulo.
Rogério Ceni descobriu quem é Leco.
E que suas promessas, seu contrato de dois anos foram balela.
Palavras ao vento e páginas vazias.
Ele acaba de ser demitido.
Não é mais técnico do seu São Paulo.
"O São Paulo FC comunica que Rogério Ceni deixa o comando técnico de sua equipe principal. Em sua passagem como treinador, Ceni demonstrou a dedicação e o empenho que o caracterizaram como atleta. Desejamos boa sorte a este que sempre será um dos maiores ídolos de nossa história", diz o comunicado divulgado no site do clube.
"O respeito e o reconhecimento pela grandeza de Rogério Ceni, como figura histórica desta instituição, serão eternamente celebrados", afirmou Carlos Augusto de Barros e Silva.
Leco usa a palavra 'respeito'. Mas não foi o que teve com Ceni. Ele o procurou no final do ano passado, quando Ricardo Gomes ainda era o técnico do São Paulo. E ofereceu a Rogério um contrato de dois anos. Disse que teria toda a paciência. O primeiro ano seria difícil, já que o clube teria de usar jogadores da base e que formaria uma equipe 'barata'. Não pediu títulos. Apenas uma vaga na Libertadores de 2018.
Pelo planejamento do clube, o São Paulo negociaria um ou dois atletas.
A meta era atingir R$ 60 milhões em vendas.
Chegou a R$ 180 milhões.
Deu a possibilidade de Ceni assumir com dois auxiliares estrangeiros.
Vetado por Leco estava Milton Cruz.
Ele que trabalhasse com Pintado.
Rogério mal havia feito a metade do curso de treinador na Inglaterra.
Mas aceitou e foi além.
Receberia dentro da realidade do clube, R$ 200 mil mensais.
E teria bônus de acordo com as eventuais conquistas.
Como a vaga na Libertadores.
Arriscou demais sua multa por rescisão.
Foi combinado que dependeria do desempenho da equipe. A meta estipulada foi a média dos aproveitamentos de Juan Carlos Osorio (51%), Edgardo Bauza (46,5%) e Ricardo Gomes (42,5%). Se o São Paulo quisesse demiti-lo com aproveitamento maior do que 47%, deveria pagar R$ 5 milhões. Se fosse um percentual menor, iria embora sem receber um centavo.
Com 37 jogos, 14 foram as vitórias, 13 empates e dez derrotas.
Teve aproveitamento de 50%.
Ou seja, vai receber o dinheiro.
Mas Leco o demitiu por outro índice.
Após a eliminação do Campeonato Paulista, da Copa do Brasil, da Sul-Americana, sob o comando de Rogério Ceni, o São Paulo é um fracasso no Brasileiro. Está na zona do rebaixamento. Em 11 jogos, ganhou três, empatou dois e perdeu seis vezes. Tem pífios 33% de aproveitamento.
A decisão da demissão aconteceu hoje de manhã.
Leco passou a ser pressionado por conselheiros, por companheiros de diretoria, por membros de organizadas e por patrocinadores. Percebeu que Rogério Ceni não tinha mais a serventia de escudo. O fracasso do time era tão grande que atingia o presidente. O maior ídolo do clube também já havia feito seu papel importante para Leco, ser seu cabo eleitoral e garantido a reeleição. Se tornou descartável.
São vários aspectos que marcam esse início desastroso do começo de carreira de Rogério Ceni como treinador. A começar por ele mesmo. Teve uma postura absolutamente arrogante. Apesar de ter garantido terminar seu curso de treinador na Europa, o abandonou na metade. Não quis nem pensar em trabalhar um semestre na base, como fez, por exemplo, Zidane, com o Real Madrid B. Também poderia iniciar como auxiliar de Ricardo Gomes ou um treinador mais vivido. Se comentava o nome de Levir Culpi. Não. Para Rogério era assumir como técnico principal ou nada.
Rogério deixou claro que é um treinador mal formado. Não adiantaram os seus 25 anos como goleiro, grande ídolo do time. Não. Ele não sabia armar uma equipe para atacar e defender. Nunca soube. E mais, trouxe profunda insegurança aos atletas ao não manter sequer esquema definido. Além de pedir duas, três funções para seus jogadores.
Instável. Mudava de ideia a cada partida. E só demonstrava ao time, aos dirigentes, aos conselheiros, à imprensa, sua falta total de rumo.
Não bastasse isso, acabou vítima de Leco e Pinotti. Os dois decidiram transformar o São Paulo em balcão de negócios. Se compra e vende ao atacado. O Morumbi virou o paraíso de empresários. Comissões. Jogadores indo embora, apesar de o treinador implorar, garantir que eram fundamentais ao time. Um insano desmanche.
Atletas chegando graças a indicações, sem grande conhecimento de Ceni.
E que deveriam ser entrosados a toque de caixa.
Mas entrosados com que esquema?
Não existia uma maneira definida de o São Paulo de Ceni atuar.
O seu auxiliar inglês Michael Beale não suportou o desmanche, o desrespeito de Leco com Rogério Ceni. E pediu demissão. O clube tentou divulgar a versão que sua família não teria se adaptado ao Brasil. Michael fez questão de desmentir. Como o blog afirmou ainda no sábado, ele foi embora pela venda de atletas fundamentais ao time como Luiz Araújo e Thiago Mendes.
O São Paulo aproveitou a demissão de Ceni para também mandar embora o francês Charles Hembert, supervisor de futebol. Leco quis se livrar de qualquer resquício da triste passagem de Rogério no comando do time.
Pintado assumirá a equipe.
O primeiro nome que interessa a Leco é Dorival Júnior.
Desempregado, está fácil de assumir o clube.
Quanto a Rogério Ceni, seu futuro é incerto.
Ele é milionário.
Ganhou e investiu muito bem seu dinheiro como jogador.
Sua primeira experiência como técnico foi um fiasco.
Pode ou não terminar o curso de treinador na Europa.
E voltar ao país.
Mas este seu primeiro passo não será esquecido.
Seu trabalho foi vergonhoso.
Isso para quem esperava o mesmo sucesso como ídolo.
Mas àqueles que perceberam toda insegurança, falta de rumo, critérios equivocados, dignos de um novato, Rogério Ceni não decepcionou. Fez o que pôde.
Pouco.
Acabou traído por Leco.
Mas também por sua arrogância.
Estava despreparado.
Não tinha condições para treinar o São Paulo.
E agora sai pela porta dos fundos.
Demitido.
Mandado embora do clube que ama.
Apesar de ser o maior ídolo.
Leco é o grande personagem neste fracasso.
Se aproveitou de Rogério Ceni.
Foi reeleito.
Não pensou nem no São Paulo.
Colocou o time nas mãos de um novato, perdido.
Jogou fora o Paulista, a Copa do Brasil, a Sul-Americana.
Depois de um insano desmanche, sabotou o trabalho que era fraco.
E, com medo do rebaixamento, o despacha sem dó.
Com R$ 5 milhões no bolso, para não reclamar.
Não há a menor dúvida.
Não foi o São Paulo que se apequenou em 2017.
O clube ficou nas mãos de dois personagens.
O arrogante Rogério Ceni.
Maior ídolo como jogador.
Mas um novato perdido, arrogante e oco como técnico.
E de Leco.
Cidadão que pode bater no peito, orgulhoso.
E se considerar o pior presidente da história do São Paulo...
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