Quatro estudantes tramavam cometer atentados no Centro Educacional
Gisno, escola pública no Plano Piloto, em Brasília. A troca de mensagens
entre eles, via WhatsApp, fez com que as aulas fossem canceladas no
período da manhã. A Polícia Civil informou que o caso será submetido à
apreciação judicial e os menores poderão responder por ameaça e
incitação ao crime.
As mensagens foram trocadas entre a noite de domingo (17) e a
madrugada desta segunda-feira (18). Nelas, os estudantes – três deles de
17 anos e um com 18 – combinam “fazer uma competiçãozinha de quem mata
mais” na escola. Um deles diz aceitar “fazer parte da linha de frente no
massacre”, e outro detalha como o atentado deveria ser executado.
“Pelas janelas de trás (áreas de escoteiros), lançar bombas de gás
lacrimogênio nas três primeiras salas, e efetuar disparos com revólver
nas últimas a fim de colocar todos para correr. Depois dar a volta…
eliminando todos que for possível, que estarão trancados por conta do
portão”, recomenda uma das sete mensagens às quais a Agência Brasil teve
acesso.
Em outra mensagem, um estudante disse já ter posicionado armas, bombas e munição em pontos estratégicos da escola.
Algumas das mensagens foram vazadas para um grupo maior de alunos e,
em seguida, para a inteligência da Polícia Civil que, de imediato e com
a ajuda de funcionários da escola, localizou um dos três menores, que
depôs no início da madrugada de hoje.
Segundo o delegado chefe da Delegacia da Criança e do Adolecente
(DCA-1), Vicente Paranahiba, foi feita uma vistoria na casa do estudante
e nada foi encontrado. Ao acessarem o celular do menor, os policiais
localizaram a conversa trocada com os outros três colegas, na qual o
atentado estaria sendo tramado.
“Ele veio à delegacia acompanhado da irmã, que se apresentou como
responsável. No depoimento, ele disse que a história não passou de uma
brincadeira, e que não teria ‘coragem de fazer o que estava sendo
tramado’. No entanto [durante a oitiva], ele teceu elogios ao atentado
ocorrido em Suzano. Ao que parece, esses garotos foram negativamente
influenciados pelo ocorrido em Suzano”, disse o delegado, referindo-se
ao caso que resultou recentemente na morte de dez pessoas.
Problemas psiquiátricos
De acordo com a irmã, que acompanhou o estudante na condição de
responsável por ele durante o depoimento feito nesta madrugada, o garoto
apresenta problemas psiquiátricos, já tendo inclusive agredido a mãe,
além de ter tentado suicídio. Ainda segundo a irmã, o garoto foi vítima
de bullying, prática que pode ter contribuído para aumentar sua
agressividade.
Um outro estudante, ouvido já durante a manhã de hoje, também
apresenta problemas comportamentais e familiares. “Um deles inclusive
fez autoflagelação na mão, onde foi desenhada uma suástica”, acrescentou
o delegado.
Estudantes
A Agência Brasil conversou com alguns estudantes do Gisno. Um deles,
colega de sala do menor ouvido pela polícia nesta madrugada, confirma
ter visto a autoflagelação, na qual foi feito um corte na forma de
suástica na própria mão.
“Ele fala para todo mundo que é nazista, defende o Hitler, desenha
suásticas e costuma andar com roupas militares e coturno”, disse o
estudante, que cursa o 2° ano do ensino médio. Segundo esse estudante de
16 anos, morador do Riacho Fundo, cidade localizada a mais de 20
quilômetros da escola, o prejuízo para os alunos fica ainda maior pelo
fato de muitos morarem longe e terem se deslocado até a escola sem saber
que as aulas desta manhã foram canceladas.
O filho do pizzaiolo Gicélio Pereira da Silva recebeu as mensagens
enviadas de madrugada e, com medo, decidiu não ir à escola. “Ele ficou
com medo, e eu resolvi vir aqui para ver como está a situação. Graças a
Deus meu filho é um garoto responsável e estudioso. A gente fica
preocupado por ver o que tem acontecido por aí em decorrência desse
culto à violência que temos visto por aí”, disse Gicélio.
“A meu ver os pais têm de acompanhar mais de perto o que seus filhos
fazem, e mostrar que violência não é o caminho, mas um problema de
nossa sociedade. Temos de parar de estimular tanta violência e tanto
armamento”, acrescentou.
O professor Ricardo Andrade, que dá aulas de português para o 3° ano
do ensino médio, disse ter testemunhado ameaças feitas por estudantes
na escola que, segundo ele, “costuma receber alunos problemáticos vindos
de outras escolas da rede pública”. “Já vi inclusive alunos ameaçando
professores por meio de gestos que simulavam armas”, disse o professor.
Ele disse que muitos conflitos foram registrados na escola no ano
passado, durante o período eleitoral. “Apesar de nunca ter manifestado
qualquer posicionamento político, já fui ofendido por um estudante que
me julgava simpatizante de uma corrente política, como se eu fosse
condescendente com alguma corrupção”.
Até o final desta manhã, a polícia tentava localizar o terceiro
menor de idade. Já o estudante maior de idade terá seu caso investigado
pela 2ª Delegacia de Polícia.
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